Foster, verdadeira star



Por Camille Nevers 

Uma atriz nunca é apenas a imagem que temos dela. E essa imagem, difícil de identificar sem que nos identifiquemos nós mesmos, esquiva-se do inteligível. Quanto mais nós a reconhecemos, fantasma luminoso que assombra nossas cavernas e sacode nossas correntes, mais é preciso conformar-se: da ideia que ela reflete, nós só temos uma vaga intuição. Então, falamos de outras imagens... Estas de uma criança pouco comum que se prostitui, Baby Doll desarticulada que queimamos como um ídolo, ao nome de quem abatemos os presidentes, sem precedente. Estas de uma jovem mulher violada sobre um fliperama que recompensamos com um Oscar por ter sabido jogar tão bem o jogo de um cinema que se encarrega ele mesmo de deflorar suas crianças-stars. Estas enfim de um cordeiro que não tem mais medo dos lobos que uivam, de seitas que chovem sobre as garotas ao fim de seus caminhos de travessia... Jodie Foster avança com culhões. 

Se quiséssemos qualificar a relação que mantém o público com a atriz, seria preciso falar – basta olharmos a expressão dos jornalistas televisivos quando eles a interrogam – de amorosa deferência, como se, além de todos os subentendidos sexuais que acarretam seus papéis na tela e na vida, Jodie Foster intimasse uma forma de respeito proveniente do próprio desejo que ela suscita. Esse corpo de mulher-criança que cresceu é sempre intimidante, e ainda mais agora, porque o espectador sente bem que é através do seu olhar que esse corpo desabrocha e, atualmente, ele é obrigado a não abaixar os olhos: mais que qualquer outra atriz, Jodie Foster incarna sozinha a história de um olhar, que começa antes mesmo de Taxi Driver e que prossegue ainda hoje. O espectador de cinema é responsável pelo seu olhar sobre uma atriz, tanto quanto o metteur-en-scène: o olhar pode matar como ele pode ajudar a viver (nós podemos contar as vítimas...). 

Visivelmente, a jovem realizadora de Mentes que brilham adquiriu uma força de caráter que nada mais parece poder infletir, ela segue em frente no interior de um sistema hollywoodiano no qual ela joga para melhor frustrá-lo, à semelhança do seu filme que enterra tarefeiros do cinema americano sem parecer tocá-los... Jodie Foster acredita no seu talento conjugado com o trabalho e a ambição. Basta vê-la em O silêncio dos inocentes, com essa atuação de concentração determinada, fazendo frente a Hannibal Lecter, para compreender que ela só está no começo – depois de, contudo, mais de vinte anos sob os sunlights. Começamos a sonhar com todas as promessas à cumprir com as quais ela está cheia, com todos os quadros sobre os quais ela pode atuar (é, que eu saiba, a primeira star-criança que se tornou atriz de primeiro plano, passando para trás da câmera quando ela não tem nem trinta anos...), com o mito provocador ao qual ela tem certamente a intenção de acessar. Por enquanto, nós ainda tendemos muito a lhe considerar como um fenômeno (cinismo e ceticismo do cinema que desconfia das mulheres que pretendem se tornar outra coisa que objeto do olhar, porque o cinema é masculino), e é sempre melhor desconfiar de tão repentino e efêmero entusiasmo por aquilo que tem o atrativo do novo e serve de pretexto ao “golpe” mediático. Mas não é correr um grande risco acreditar que Jodie Foster tem a envergadura de uma artista autêntica, atriz e cineasta cada vez mais entremeadas, até o dia no qual discerniremos, nessa aparente esquizofrenia, uma única e mesma reflexão, a unidade de um olhar original enfim entregue a si mesmo, e somente a ele: a história do olhar direcionado a Jodie Foster está em vias de mudar de natureza, o movimento se inverte pouco a pouco e, reviravolta súbita e justa, é agora Jodie Foster que direciona sobre nós seu olhar azul. Pois a imagem não é cega. 

Foster, vraie star foi publicado originalmente na revista Cahiers du Cinéma, n° 452, fevereiro de 1992. Tradução: Leticia Weber Jarek.

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