O primeiro número da revista La Lettre du Cinéma foi lançado em outubro de 1996. Mas um ano antes, Emmanuel Giraud e sua “jovem equipe” assumiam a direção do Prêmio Georges e Ruta Sadoul. Eles lançam, na sequência, um fanzine do prêmio, primeiro passo em direção à revista. Um ano antes, Judith Cahen abandonou o seu projeto de mestrado (“A Perversidade e o Cinema de Buñuel e Fellini”) e entrou na FEMIS, onde encontrou Emmanuel Giraud, seu futuro ex-sócio. Um ano antes, Vincent Dieutre volta de sua residência na Itália, com as latas de Roma desolada debaixo do braço para tentar a sorte nos festivais. Enquanto isso, Paris era uma festa! Um bando de britpops (com cabelos moptop e ternos quadriculados) tomavam de assalto as primeiras filas da Cinemateca Francesa e do cinema Action, entre eles os inseparáveis Serge Bozon, Benjamin Esdraffo e Axelle Ropert. Um ano antes, Sandrine Rinaldi (também conhecida como Camille Nevers, mas não ainda como Alexander Wolf ou Terry McKay) encerra seu ciclo na Cahiers du Cinéma, onde tinha escrito, entre outras coisas, uma polêmica defesa de A Lista de Schindler. Um ano antes, Hélène Frappat teve seu artigo de ataque à Lista de Schindler recusado pela revista Trafic. Eles já tinham o texto de Pierre Léon e preferiam outra coisa... um artigo sobre Rivette, por exemplo, o que antecipou o encontro da jovem “velha filósofa” com o velho “jovem turco”. Um ano antes, Julien Husson telefona para dezenove Christine Martins da lista telefônica em busca daquela que tinha enviado uma crítica feroz contra O ódio para o jornal Libération. A vigésima atende. Era ela. Ele a convida para uma nova revista que eles vão lançar em outubro...
A Lettre du Cinéma era uma revista de cineastas. Ou melhor, de pessoas que tinham vontade de escrever sobre cinema e fazer filmes, ao mesmo tempo. Lançada entre 1996 e 2005, a revista apareceu na época das autoficções, da auto-mise en scène, dos cineastas-atores; da ascensão do jovem cinema francês, do eclipse da geração Diagonale e do segundo auge dos sobreviventes da Nouvelle Vague. Era a época também da chegada do vídeo, da nova onda de filmes asiáticos, das trocas selvagens entre cinema, exposição e performance. De muitas maneiras a revista respondia a esse contexto, seja através dos textos, seja através dos filmes dos redatores, mas sempre andando sobre duas pernas: a cinefilia clássica (hitchcocko-hawksiana, rohmero-rivettiana) e o diálogo entre cinema e arte contemporânea. Os textos e filmes do grupo habitavam a encruzilhada entre o macmahonismo e o feminismo, entre o queer e o clássico. A Lettre du Cinéma era um exercício de liberdade, uma publicação dedicada a um cinema excêntrico, secreto. Ou ao lado excêntrico e secreto do cinema popular.
Em outubro de 2021, a Lettre du Cinéma completa 25 anos. E o Vestido sem costura – blog de cinema comemora a data com uma programação especial dividida em duas partes: a publicação de duas entrevistas inéditas e de uma série de traduções de artigos selecionados entre os melhores, a partir dos 31 números da revista; e uma mostra online com filmes realizados por alguns dos ex-redatores, pontuada por conversas com cada um deles.
Para participar da mostra, as regras são simples: 1) o interessado preenche o formulário (Ficha de inscrição: 25+1 anos da Lettre du Cinéma (google.com)); 2) ele recebe o filme da semana por e-mail; 3) Um dia antes do encontro, o link para a reunião no zoom chega nos emails; 4) No dia do encontro a sala é aberta às 13h50. A conversa, com tradução consecutiva, segue a clássica dinâmica do cineclube: comentários, perguntas e respostas sobre os filmes e sobre o que eles podem provocar.
A mostra começa oficialmente no dia 11 de setembro de 2021, com Judith Cahen e o seu A cruzada de Anne Buridan. Mas um ano antes...
11/09, sábado: A cruzada de Anne Buridan, de Judith Cahen
(La croisade d’Anne Buridan, 1995 - 85 min. Com: Judith Cahen, Serge Bozon, Joël Luecht, Fabrice Barbaro, Alberto Sorbelli, Camille de Casabianca, Jeanne Balibar, Julien Husson)
Investigando a relação entre o indivíduo e o coletivo neste diário pessoal filmado, a diretora entrevista uma variedade de pessoas diferentes.
17/09, sexta: Roma desolada, de Vincent Dieutre
(Rome désolée, 1996 - 75 min)
Imagens de Roma, de anúncios de televisão, de discursos de Berlusconi e de noticiários da CNN misturam-se à narrativa em primeira pessoa de fragmentos da realidade implacável de um jovem homossexual viciado em drogas na Roma dos anos oitenta.
[NOVA DATA] 26/09, DOMINGO: Os dias em que não existo, de Jean-Charles Fitoussi
(Les jours où je n'existe pas, 2002 - 112 min. Com: Clémentine Baert, Antoine Chappey, Antoine Michot, Luís Miguel Cintra, Serge Bozon)
Uma história que mistura fantasia, filosofia e realidade cotidiana. O problema com Antoine Martin é que ele existe apenas um dia a cada dois. E é dessa circunstância tão pessoal que ele conhece Clémentine, uma garota que vive em período integral. Tudo isso apenas aprofundará sua angústia.
01/10, sexta: Silenzio, de Christian Merlhiot
(Silenzio, 2005 - 75 min. Com: Lili Merlhiot, Kentaro Satô, Jun-ichi Satô, Sachiko Satô, Noriko Satô)
Lili, uma garota francesa à beira da adolescência, chega sozinha ao Japão e é recebida por Ken, no aeroporto de Fukuoka, para levá-la ao pai em uma ilha no sul do arquipélago. Eles não falam a mesma língua, mas a ausência de palavras não é uma desvantagem, pois gradualmente forma-se um vínculo afetivo entre eles.
09/10, sábado: Mods, de Serge Bozon
(Mods, 2002 - 56 min. Com: Laurent Lacotte, Guillaume Verdier, Serge Bozon, Axelle Ropert, Vladimir Léon, Patricia Barzyk, Benjamin Esdraffo, Chloé Esdraffo)
"Em 1965, no Festival Eurovision, France Gall cantou: Meu coração está gravado nos meus grooves. Mods toca esses grooves em modo de repetição, para deixar os ecos ressoarem. Ecos do eterno refrão adolescente: raiva, frustração e medo."
23/10, sábado: Estrela violeta, de Axelle Ropert*
(Étoile Violette, 2005 - 42 min. Com: Serge Bozon, Emmanuel Levaufre, Lou Castel)
Em busca de conhecimento, um alfaiate solitário se matricula em um curso noturno de literatura sobre “a solidão de Jean-Jacques Rousseau” e logo se encontra em comunhão com o espírito do próprio pensador iluminista.
*Excepcionalmente, a conversa sobre Estrela violeta será com o ator e crítico Emmanuel Levaufre.
[NOVA DATA] 28/10, QUINTA: Eis o homem, de Noël Herpe
(C’est l’homme, 2009 - 30 min. Com: Noël Herpe, Hovnatan Avédikian, Mayel Elhajaoui, Boris Bérard)
Um homem erra pelas ruas de Paris vestido de mulher. Ele cruza com três jovens que vão fazê-lo viver um verdadeiro calvário.
[NOVO HORARIO] 29/10, sexta AS 13H30: A arte, de Pascale Bodet
(L'Art, 2015 - 52 min. Com: Lucien Marin, Pascale Bodet)
Em meio a enxertos, podas e cortes, o retrato de um jardineiro trabalhando. A luz, o tempo, as decisões a serem tomadas, e a harmonia de saber que o controle final será da natureza, do movimento incessante da vida.
06/11, sábado: O pescoço de Clarisse, de Benjamin Esdraffo
(Le Cou de Clarisse, 2003 - 41 min. Com: Jean-Christophe Bouvet, Axelle Ropert, Serge Bozon, Chloé Esdraffo, Michel Delahaye, Cécile Decugis, René Maurice, Marie-Noëlle Astric)
Antoine ama Clarisse e deseja se casar com ela. Ou como uma simples historia sobre um anel perdido leva uma jovem a dizer sim, enfim.
12/11, sexta: Rumo ao norte, de Sandrine Rinaldi
(Cap Nord, 2007 - 60 min. Com: Valérie Donzelli, Christine Dory, Chloé Esdraffo, Gilles Esposito, Hélène Frappat, Noël Herpe, Laurent Lacotte, Vincent Lacotte, Sandrine Rinaldi, Lucia Sanchez, Sabrina Seyvecou, Olivier Séror, Marie-Claude Treilhou, Guillaume Verdier, entre muitos outros)
Uma noite de festa, amores musicais: rumo ao norte, ao ritmo do Northern Soul.
Serviço:
Setembro, outubro e novembro
via zoom
Inscrições gratuitas pelo formulario: Ficha de inscrição: 25+1 anos da Lettre du Cinéma (google.com)
VAGAS LIMITADAS
Cartaz: Max Andreone
Realização: Vestido sem costura - Blog de cinema
Em parceria com o Cine 1121
Apoio: Making off
Formidable! VD
ResponderExcluirMerci beaucoup, Vincent ! à bientôt.
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