O mais visual e o mais sensual dos cineastas é também aquele que nos introduz no mais íntimo dos seus personagens, porque ele é acima de tudo um apaixonado fiel da sua aparência e, através desta, da sua alma. O conhecimento em Renoir passa pelo amor e o amor pela epiderme do mundo. A agilidade, a mobilidade, o modelo vivo da sua realização é a sua preocupação em ornar, para seu prazer e nosso gozo, o vestido sem costuras da realidade.
Renoir francês - André Bazin

US Go Home




de Claire Denis, com Alice Houri, Jessica Tharaud e Grégoire Colin.

Por Stéphane Bouquet

Podíamos contar com Claire Denis para abordar de frente, sem complexos e sem vulgaridade, a única questão que atormenta verdadeiramente nossas adolescências: quando vamos enfim transar, e com quem? Sobre este tema um pouco escorregadio da primeira vez, Claire Denis conta menos uma história (US Go Home é pouco roteirizado e foge francamente da psicologia) do que filma uma energia bruta, primitiva e pulsional, apreendida em seu ponto de intensidade máxima no começo do filme, e que segue até se esgotar. US Go Home é um filme do decididamente obstinado. Tudo começa numa tarde. Martine, sua amiga ruiva, e Alain seu irmão mais velho (respectivamente Alice Houri, Jessica Tharaud e Grégoire Colin, todos os três excelentes), controlam sua libido transbordante como podem, umas falando unicamente de rapazes, único momento volúvel deste filme pouco tagarela; o outro se lançando numa longa dança febril e solitária para apaziguar seu desejo, esplêndido plano-sequência onde o corpo trepidante do ator está como que fechado no quadro, forçado a movimentos sem amplitude e permanece impedido de vibrar. Mas naquela noite, as duas amigas são convidadas a uma festa, e Martine considera que chegou o momento de transar pela primeira vez.

Chegando no lugar, elas constatam que os pais participam da festa, que eles dançam a farândola e que não há nenhuma possibilidade de levar a cabo seu projeto. Elas decidem então se juntar a Alain, que partira para uma festa dos mais velhos [parti pour une fête des plus grands qu'elles], jovens provavelmente mais dispostos ao amor físico. O que se segue é um intenso momento de cinema.

No centro de uma grande mansão burguesa, Martine deambula à procura de um rapaz que queira lhe fazer dançar e o que mais rolar. Na semi-obscuridade que banha os cômodos e atenua as formas, Claire Denis se aproxima, câmera na mão, o mais perto destes corpos que se procuram, se tocam e se repelem, às vezes com dureza, jamais com violência, sob um rock soft e um pouco lânguido. Em sintonia, a câmera prefere visivelmente acariciar os corpos em vez de os maltratar ou atormentar. É uma das mais belas ideias de Claire Denis não ter filmado nem a confusão dos corpos, nem a violência eventual da pulsão sexual, e ter permanecido no registro da doçura, que não é sentimentalismo (sobre Camille de Noites sem dormir, a cineasta disse que ele matava "com doçura"). É também o verdadeiro tema de Claire Denis, não a realização sexual, mas o desejo cuja natureza permanece misteriosa, e esse mistério ainda maior que é um corpo que palpita e se comove. Para conseguir penetrar essa zona de opacidade - opacidade concretamente figurada pelos planos muito pouco iluminados, uma câmera que avança tateante e gira em torno de casais muito confusos para que adivinhemos o que circula entre eles -, a doçura é talvez a melhor estratégia.



A revelação, aliás, virá desta doçura, ao fim de uma série de experiências abortadas, como são sistematicamente interrompidos os discos sobre o toca-discos. O filme encontra seu ritmo nestas tentativas, sempre mais impulsivas e mais explicitamente sexuais, mas a cada vez frustradas, de estabelecer relações com o Outro. Entre a primeira tentativa de diálogo com uma garota que discutiu com seu namorado (o que é ter um amigo?), e os abraços largamente incestuosos de seu irmão no fim da festa(o que é ter um corpo contra o seu?), Martine avançará no conhecimento íntimo do desejo. Resta a passagem ao ato. É a última parte do filme, e a mais bela. No caminho de volta, Martine e seu irmão encontram um oficial americano que aceita levá-los em casa. Martine paquera um pouco, e Alain, ciumento como um galo, decide voltar a pé.


O campo está livre. Só uma grande cineasta do corpo e de suas pulsões poderia em seguida filmar tão bem o nascimento do desejo no soldado americano. Se aproximando sempre cada vez mais perto dele, de suas mãos, de seu rosto, a câmera acaba por se colar à sua bochecha onde sentimos palpitar a pele. Alternando com estes planos muito apertados, são montados largos contra-plongées sob as folhagens das árvores recortadas contra o céu noturno, agitada respiração, como aquela de um coração que enlouquece, se agita e faz boom-boom (título originalmente previsto).

A sequência está na ordem das coisas, e fora de campo. No muito belo antepenúltimo plano, três corpos saciados, cansados e vazios, certificam que não há mais energia disponível e que o filme pode acabar. Claire Denis fez um dos mais belos filmes da série.

US Go Home foi publicado na revista Cahiers du Cinéma, n° 485, novembro de 1994. Tradução: Miguel Haoni.

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