O mais visual e o mais sensual dos cineastas é também aquele que nos introduz no mais íntimo dos seus personagens, porque ele é acima de tudo um apaixonado fiel da sua aparência e, através desta, da sua alma. O conhecimento em Renoir passa pelo amor e o amor pela epiderme do mundo. A agilidade, a mobilidade, o modelo vivo da sua realização é a sua preocupação em ornar, para seu prazer e nosso gozo, o vestido sem costuras da realidade.
Renoir francês - André Bazin

Por que ir chorar no cinema?


Por Judith Cahen

Acabo de ver Roma desolada pela terceira vez... As lágrimas vieram ainda aos olhos, sempre nos mesmos momentos. Momentos pungentes e dolorosos como pequenas facadas que nos damos por vezes a nós mesmos para ter a experiência de nossos corpos em dias de solidão... Por que ir chorar no cinema? Talvez para experimentar esse estranho paradoxo que quer que a solidão seja enfim e curiosamente compartilhada. Para mim, Roma desolada expressa essencialmente esse paradoxo... quando se trata apenas, no fundo, de encontros.

Quando realizei A Cruzada de Anne Buridain, eu não tinha mais solidão. Meu filme devia expressar até a saturação o estado de confusão interior quando nós nos sentimos povoados, atravessados, pelos encontros, muito ocupados pelos outros para saber onde estamos. Eu tentava construir o vazio em mim, em vão.

Roma desolada apareceu-me como um filme, ao mesmo tempo, estranhamente despovoado e cheio de gente... Nele, Roma é mostrada desnudada, desertada, apesar da multidão e da infinidade de encontros sobre os quais nos conta a voz off.

Mas esses encontros não parecem nunca trazer a calma interior. Vincent Dieutre ou, melhor, o narrador, parece ter encontrado tantos corpos, amantes, que não se trata mais de mostrar apenas um deles, como se as carícias acumuladas só tivessem aumentado o sentimento de estar sozinho e desarmado frente à opacidade do mundo.

Não há muitas imagens em Roma desolada. Podemos nos frustrar... a menos que consideremos que essa economia de planos está lá para nos lembrar que há talvez muitos planos hoje, muitas imagens, e que não é fácil ver o mundo simplesmente... Experimentar essa solidão, perdido, sozinho como se trancado no fundo de sua cabeça, num corpo cansado, chapado, não nos permite ver nada além da superfície das coisas. Não uma superfície lisa e clara, mas uma espécie de véu opaco que é só um reflexo mórbido das profundezas que o fazem ser. Esse véu parece se posicionar entre o narrador e o filme, como uma membrana; nunca a voz off coincide exatamente com o que é dado a ver. Como se ela fosse desencorajada por todas as imagens possíveis, que jamais dariam conta do mundo interior que ela exprime.

As imagens da televisão, recorrentes, sem o som de seus slogans publicitários agressivos, terminam por nos dar essa sensação ambivalente de indiferença às imagens e de extrema sensibilidade/fragilidade, à escuta de uma voz que tenta dizer, sem pathos, o cotidiano de uma vida à deriva que se reconhece simultaneamente sem consistência e à beira do mais essencial, na relação mais crua com a própria angústia da existência...

O texto da voz off conta muitas vezes esse sentimento de solidão absoluta que conhecem aqueles que dormem assim com os outros sempre na esperança de se unir durante alguns instantes. “Fazer amor não nos unirá”, simplesmente porque a parte que pode ser partilhada será sempre infinitamente menor que essa dose de solidão interior que acumulamos desde a infância... Contudo, se nada pode ser absolutamente compartilhado, o próprio filme como trabalho, depois como superfície projetada, permite a comunhão.

Pourquoi aller pleurer au cinéma ? – Rome Désolée de Vincent Dieutre foi publicado originalmente na revista La Lettre du Cinéma, n° 2, verão de 1997, p. 28. Tradução: Leticia Weber Jarek.

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