O mais visual e o mais sensual dos cineastas é também aquele que nos introduz no mais íntimo dos seus personagens, porque ele é acima de tudo um apaixonado fiel da sua aparência e, através desta, da sua alma. O conhecimento em Renoir passa pelo amor e o amor pela epiderme do mundo. A agilidade, a mobilidade, o modelo vivo da sua realização é a sua preocupação em ornar, para seu prazer e nosso gozo, o vestido sem costuras da realidade.
Renoir francês - André Bazin

Pierre Rissient



Por Clint Eastwood

Quando, em 1993, Os imperdoáveis ganhou um oscar, eu entrei em cena sabendo que tinha muito pouco tempo para fazer os agradecimentos que queria. Mas eram numerosas, as pessoas que me permitiram estar lá. Entre elas, eu queria mencionar especialmente os "french critics", que tiveram um papel à parte entre os outros críticos de cinema no mundo inteiro. Desde o começo da minha carreira de realizador, a crítica francesa foi a primeira a saudar e a compreender meu trabalho. E estas breves palavras se dirigiam muito particularmente a Pierre Rissient de quem eu conhecia o imenso trabalho realizado do meu lado. Pierre sempre foi atento ao meu cinema, desde Perversa paixão (1971), o primeiro filme que realizei. Pela qualidade do seu olhar, pela sua erudição, também pela força de sua convicção, ele contribuiu para a compreensão de meus filmes, ele ajudou no seu reconhecimento. Ele fez isso na França, e depois por todos os lados. E o fez antes de todo mundo, e mais que qualquer pessoa.

Nosso encontro remonta a 1971, à ocasião do lançamento de O estranho que nós amamos, que eu tinha produzido e no qual interpretava o papel principal. Nós viemos a Paris para apresentá-lo ao público e à imprensa. Pierre amava o filme e o defendia de maneira formidável. Ele falava dele com eloquência, com palavras convincentes para evocar o trabalho de Don Siegel. Este era, aliás, muito apreciado na França, em todo caso, mais que nos Estados Unidos. Sempre a magia da crítica francesa.

Imediatamente eu senti que Pierre não tinha outra coisa na cabeça que não o cinema, que não tinha no espírito nada além da qualidade do filme, do qual falava com paixão. Que só isso o preocupava. Ele era animado por um fervor inigualável e seu amor pelo cinema estava nele enraizado de uma forma impressionante. E se alguém discordasse dele, ele poderia colá-lo na parede!


Nos tornamos amigos e ele me promulgou seus conselhos numerosas vezes. Quando ele está na Califórnia, nós nos vemos. Sua companhia me encanta. E sobretudo, ele é uma das raras pessoas a quem eu posso mostrar meus filmes quando eles não estão ainda terminados. Esta não é muito a prática dos estúdios mas se Pierre está na cidade, eu lhe telefono e projeto para ele a primeira montagem, e sem medo, pois eu sei que ele saberá ver além de todos os pequenos retoques ainda necessários. Ele sabe observar, apreciar e julgar a verdadeira essência de um filme como poucas pessoas. E eu confio nele totalmente.

E depois, Pierre é também um homem inatingível. Este Mister Everywhere! Ele está em todo lugar ao mesmo tempo, ele se comunica com pessoas de todos os países, ele sabe tudo o que acontece no mundo do cinema e quando já não temos mais notícias, quando pensamos que ele desapareceu, ele surge repentinamente. Sempre com ele, e ele nunca a perderá, esta pequena magia do cinema.

Texto originalmente publicado como prefácio do livro Mister Everywhere, p.13-14. Tradução: Miguel Haoni.

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