Sobre As good as it gets de James L. Brooks
Por Axelle Ropert
No cartaz, Jack Nicholson se enternece por um terrível cachorrinho. No trailer, um velho misantropo retorna, graças à descoberta do amor, ao seio de seus semelhantes. Raramente se viu uma promoção tão “distante da realidade”, chegando a traduzir o agridoce As good as it gets pelo otimista Para o bem ou para o mal[1].
Como conseguir jantar com uma mulher quando só se suporta talheres de plástico? Como conseguir jantar com um homem quando só se tem uma preocupação na cabeça, a asma de um garotinho? Através dessas situações de impedimento, James L. Brooks explora, sob todas as suas facetas, um mecanismo que não para de relaxar e de se contrair: a forçação. O voluntarismo é, assim, essa decisão engraçada, complicada e tão pouco exemplar quanto possível de não mais se deixar levar e de se controlar, em resposta (e aí se encontra a lei do encorajamento mútuo) ao abandono simétrico do seu parceiro. Lutar contra suas obsessões (comer com verdadeiros talheres), se obrigar a se examinar meticulosamente (compreender que um garotinho não pede para ser o centro de uma vida), mas também brutalizar os outros (humor misantrópico à vontade) poderia ser o programa dessa mecânica íntima, um programa perfurado pelas “pequenas ausências”... Aos momentos em que se enredam brutalmente o desejo de contornar e o medo do que pode vir em seguida se sucedem, na verdade, pausas surpreendentes de repouso (uma mulher medita num bonde, uma paisagem desfila no campo). Uma inspiração, e a confrontação se prepara, uma expiração, e o conflito desaparece.
Todos temiam Jack Nicholson. James L. Brooks compreendeu que era preciso utilizar um histriônico como um disco arranhado: seja lhe fazendo interpretar indefinidamente o mesmo refrão, seja lhe interrompendo. Graças a uma Helen Hunt que opõe às caretas de seu parceiro seu cansaço de mulher inquieta, Jack Nicholson só pode representar no vácuo – obrigado a manter a compostura, ou ser censurado –, desarmado por essa valentia feminina. Jack Nicholson não suporta ninguém exceto Helen Hunt, Helen Hunt suporta todo mundo exceto Jack Nicholson: a exasperação é, assim, essa curiosa relação humana que obriga a sair dos seus (maus) hábitos para se encontrar em território verdadeiramente estrangeiro – esse é o charme incomparável de As good as it gets, de dar constantemente a impressão de uma terra incognita por onde avança o casal.
Não se pode aprender a amar um cachorrinho, um negro musculoso, um vizinho homossexual ou uma terna jovem mulher (sic). Esta é a bizarra convicção anti-humanista do filme, não sem lembrar a já célebre sentença mccareyana: “Eu amo o meu filho como se ele fosse humano”. A grande reconciliação humana não existe, e o misantropo permanecerá misantropo, apesar de tudo. Mas ele terá aprendido à reconsiderar esse vizinho homossexual, esse cachorrinho, esse negro musculoso, essa terna jovem mulher, quer dizer à lhes reservar, literalmente, um lugar na sua vida. Não se sabe se Jack Nicholson um dia saberá abraçar corretamente (e duvidamos disso!), mas, guiados pela prudência daqueles que perderam muito e tem tudo a ganhar, esse homem e essa mulher se experimentarão no amor. As good as it gets...
[1] No Brasil, o filme ganhou o titulo de Melhor é Impossível. (NdT)
Mariage à l'essai foi originalmente publicado na revista La Lettre du Cinéma n°6, verão de 1998, p. 42. Tradução: Miguel Haoni.
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