Por Vera Silva
Texto produzido durante o Curso Nouvelle Vague, que ocorreu na Casa do Contador de Histórias, em Curitiba.
Comecemos pelo que não permanece – pelo menos não para mim.
A inflamação. Pelo menos não aquela que tomou a cena na Paris dos anos sessenta – isso é paroquial e é passado. O transbordamento de agressividade, com certeza tinha sua razão e seu porquê naquele então: havia uma denúncia – e esta exasperava os dois lados do processo. E não vamos nos esquecer de que o ódio é uma paixão que produz um gozo intenso aos seus protagonistas – neles e naqueles que gostam de viajar de carona.
O que permanece?
Primeiro, a denúncia de que o dito “cinema de qualidade” publicava uma caricatura mal-feita do Real, mostrando a experiência humana esvaziada de qualquer vestígio da vida que se propunha “revelar”. E segundo (demonstrando a tese já enunciada), a mostração de que o cinema pode – e deve – desvelar a vida que – não nos esqueçamos – respira, se move, é imprevisível e incontrolável, pulsa e transborda vitalidade.
Isso que permanece já ficou estampado neste curso com a simples vista de fragmentos de Sinfonia Pastoral e de Os Incompreendidos: salta as olhos a distância que vai da caricatura pretensiosa e fúnebre à aleteia vigorosa.
Sobre a permanência, podemos dizer que, o que fica, é aquilo que, de alguma forma, mais ou menos penetra o Real e dele extrai um fragmento Simbólico: o símbolo apreende algo do Real de modo duradouro e lhe dá legibilidade – ontem, hoje e amanhã. Em outras palavras, não passa. Isso é o que, da Nouvelle Vague, não passará (penso eu).
Tive muita dificuldade em aderir a este curso, desanimada e sem paciência para suportar a inflamação que já antecipava. Mas está valendo a pena pois, ficando na metáfora da onda que se ergueu no mar, foi inflamação de ostra – aquela que produz a pérola.
4 de Julho 2018
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