O mais visual e o mais sensual dos cineastas é também aquele que nos introduz no mais íntimo dos seus personagens, porque ele é acima de tudo um apaixonado fiel da sua aparência e, através desta, da sua alma. O conhecimento em Renoir passa pelo amor e o amor pela epiderme do mundo. A agilidade, a mobilidade, o modelo vivo da sua realização é a sua preocupação em ornar, para seu prazer e nosso gozo, o vestido sem costuras da realidade.
Renoir francês - André Bazin

Baby face


Por Jacques Lourcelles


Um estudo de costumes audacioso e forte, bem ritmado, concebido antes da instauração do código Hays e reformulado em seguida. Estimulada por um roteiro sem concessões (exceto no final), Barbara Stanwyck, uma das maiores, senão a maior atriz americana, dá um verdadeiro recital de suas possibilidades: dureza elegante, frieza, obstinação, sofisticação glacial, ironia às quais se juntam constantemente uma lucidez desiludida, uma insatisfação consigo mesma que tornam o personagem totalmente cativante. Alguns comentadores viram no papel de Lily Powers uma primeira versão do seu personagem de femme fatale e criminosa de Pacto de sangue (Billy Wilder). Mas aqui a sua composição é ainda mais surpreendente e muito mais ousada, pois ela está mergulhada num contexto realista desprovido de qualquer fatalismo e fora das convenções de um gênero. Ela encarna um personagem da vida de todos os dias, próximo do espectador, cuja ação e o sucesso obedecem às regras de um universo implacável e imoral que não lhe deixa nenhum outro meio de triunfar.

Baby face foi publicado em Dictionnaire du cinéma - Les films, Editions Robert Laffont, Paris, 1992, p. 116. Tradução: Miguel Haoni.

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