O mais visual e o mais sensual dos cineastas é também aquele que nos introduz no mais íntimo dos seus personagens, porque ele é acima de tudo um apaixonado fiel da sua aparência e, através desta, da sua alma. O conhecimento em Renoir passa pelo amor e o amor pela epiderme do mundo. A agilidade, a mobilidade, o modelo vivo da sua realização é a sua preocupação em ornar, para seu prazer e nosso gozo, o vestido sem costuras da realidade.
Renoir francês - André Bazin

As aventuras de Hajji Baba





Por Jacques Lourcelles


No cinema hollywoodiano do pós-guerra, a corrente dos filmes de aventuras orientais, adaptados de perto ou de longe das “Mil e Uma Noites”, foi quantitativamente pouco importante, mas era ilustrada por tendências variadas. Na Universal dos anos 40, essa corrente dá origem, por exemplo, a toda sorte de narrativas espetaculares para as crianças, em que a inovação recente da cor foi particularmente valorizada (cf. As Mil e uma Noites, John Rawlins, 1942, ou Ali Babá e os Quarenta Ladrões, Arthur Lubin, 1944). No fim dos anos 50, o conto oriental reencontra seu caráter fantástico, favorecido por efeitos especiais particularmente atraentes (Simbad e a Princesa, Nathan Juran, 1958). Situado entre esses dois períodos, As Aventuras de Hajji Baba representa uma tentativa quase única – pelo menos pela sua qualidade – de valorizar, em uma narrativa não fantástica, a dimensão adulta, elegante e discretamente erótica do conto oriental. Don Weis, naquele que é sem a menor dúvida o melhor filme da sua carreira, demonstrou um refinamento plástico, ou pura e simplesmente um refinamento, absolutamente extraordinários em que o aporte do “color consultant”, o célebre fotógrafo George Hoyningen-Huene (colaborador de Cukor em todos os seus filmes a cores, de Nasce Uma Estrela a A Vida Íntima de Quatro Mulheres) foi verdadeiramente determinante. O filme manifesta, de fato, uma exigência muito grande em todos os níveis: em seus cenários, de um luxo habilmente abstrato; em seus figurinos, fantasistas e multicoloridos, sempre de uma perfeita unidade de estilo; na beleza picante de suas intérpretes: as soberbas Elaine Stewart e Rosemarie Bowe. John Derek não está nada mal também, como um distante primo de Fabrice del Dongo. Com muita técnica e leveza, Don Weis faz o espectador respirar o ar da grande aventura, purificada de toda grandiloquência assim como de todas essas facilidades burlescas que são o mal do gênero. O meio sorriso do narrador acrescenta constantemente a nota irônica sem a qual uma obra desse gênero seria incompleta; uma certa desilusão é necessária àquele que conta a história como àquele que a escuta.



N.B. A crítica americana, tão raramente lúcida, ignorou, claro, este filme que ela deveria ter lisonjeado. Bosley Crowther, o crítico do “New York Times”, revelou seu obsceno mau gosto declarando que ele preferiria ter visto Bob Hope no papel de John Derek. O filme deve sua reputação à perspicácia de certos cinéfilos franceses, em particular os Mac-Mahonianos.

Les aventures de Hajji Baba
foi publicado no Dictionnaire du Cinéma: Les Films, Paris: Laffont, 1992, p. 102. Tradução: Cauby Monteiro.

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