O Bairro é um clube de leitura de Curitiba, que frequentamos entre os anos 2014 e 2015. A ideia matriz era reunir pessoas para conversar sobre livros e, sobretudo, o que estes livros pudessem inspirar. Ali construímos uma pequena comunidade, inspirada na troca intelectual e na amizade. O tempo passou, nos afastamos e, em virtude das imposições deste duro ano de 2020, sentimos vontade de nos reaproximar.
Hoje, pela internet, desenhamos uma nova arquitetura para o Bairro. O clube se expande e novas ruas, em direção ao teatro e ao cinema, estão sendo abertas. É esta última que vamos apresentar aqui.
A impossibilidade do contato físico lançou luz sobre outras formas de troca que sempre estiveram à mão, mas que não conseguíamos ver. O Cineclube do Bairro pretende, portanto, estabelecer uma comunidade virtual com novas pontes, ruas, encruzilhadas, esquinas – um país imaginário, habitável, como aquele do Cinema percorrido por Serge Daney. Como no trabalho do historiador, que interroga o passado munido das inquietações do presente, queremos estabelecer um diálogo entre a história do cinema e o nosso contexto, perturbado pelo apocalipse político e pela crise sanitária. Acreditamos que os artistas que traremos para a conversa propõem, através dos seus filmes, visões, recortes do mundo que convidam à análise e à reflexão.
Essa comunidade se liga a outras, se conecta a outras realidades. E o cineclube é também um convite à deriva. Para nós, o cinema sempre foi o ato de andar por uma rua que não conhecemos. Mas sempre com a consciência de que outras pessoas já estiveram ali. O primeiro passo é este ciclo, intitulado “Cabras marcados para morrer”, através do qual tentaremos cercar, na conversa sobre quatro filmes (Iracema - uma transa amazônica, Tempestades d’alma, Cabra marcado para morrer e Homens armados), algumas respostas para o negacionismo que retorna mais uma vez. Trata-se aqui de quatro filmes políticos – e é preciso não ter medo dessa palavra – mas que precisam ser visitados sem os atalhos da generalização. São histórias que afrontam a morte programada pelo poder; guiadas por personagens não-conciliados, resistentes a um sistema que lhes condena ao desaparecimento, essas obras apelam à memória.
Todo silêncio é então, nesse sentido, criminoso. Os filmes guardam, nas suas respectivas formas de representação, o toque da morte e carregam o registro de outros tempos e espaços. É preciso lembrar da ascensão do nazismo, dos efeitos destrutivos da ditadura militar no Brasil, das guerrilhas populares no México. É preciso lembrar mas não só.
Por outro lado, como nos mostra John Sayles no filme que fecha o ciclo, o mundo sempre esteve na iminência do fim e sempre renasceu.
Leticia Weber Jarek e Miguel Haoni
Programação:
12 de agosto: Iracema - uma transa amazônica, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna
26 de agosto: Tempestades d’alma, de Frank Borzage
9 de setembro: Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho
23 de setembro: Homens armados, de John Sayles
Serviço:
Encontros quinzenais, às quartas-feiras, 14h30, através do Jitsi
Inscrição gratuita e maiores informações: cineclubedobairro@gmail.com
VAGAS LIMITADAS
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